sábado, 10 de dezembro de 2011

Aumentar a fasquia...


No seguimento do post anterior, o Segundo post.

Retirado de Fearfuldogs Blog, tradução do post Raising the criteria for sacred cows”.

No treino de cães a maneira de obter um comportamento que queremos é através do aumento progressivo do critério. Isto significa que paramos de recompensar o comportamento que está quase como queremos e pedimos mais e melhor do cão. Quando o obtemos, recompensamos. Se quer que o seu cão se deite não se fica por um daqueles agachamentos que quase parecem um deita. Isso pode não ter problema se está a fazer shaping para o comportamento mas é bom que não recompense muitas vezes senão será isso com que ficará. Espere mais daqueles capazes de fazer mais e recompense a melhoria.

Parece que no mundo do resgate de animais muitos de nós estamos dispostos a nos contentarmos, e recompensarmos, um comportamento não assim tão bom das pessoas que o desenvolvem. Tipicamente quando abordo este tema recebo as respostas habituais como: “Bem pelo menos estão a fazer alguma coisa” ou “ “É melhor do que nada”, existe uma lista de razões para que o “melhor” seja difícil ou até impossível de atingir. E depois existem os que partem para a ofensiva “E tu o que andas a fazer para ajudar?”.

Embora cada uma das respostas tenha uma razão de ser, parecem falhar o ponto onde quero chegar, que é o de que nós podemos fazer melhor, mas não enquanto não aumentarmos o critério para o que consideramos um resgate de sucesso. Como está agora o retirar simplesmente o cão do canil e colocá-lo numa casa é bom o suficiente que não se queira de forma nenhuma julgar quem o faz. Na minha opinião é como recompensar um daqueles, quase mas não totalmente, deitas. Pode ser bom o suficiente para si mas não sobreviverá ao escrutínio daqueles que passam a vida a tentar assessorar esse tipo de coisas. Ou são chamados para tentar reunir os cacos de um cão desfeito.

Depois de ver um video de uns Beagles a serem salvos de um laboratório em Espanha, que era suposto ter trazido lágrimas aos meus olhos, dei por mim zangada e frustrada e depois aliviada. Eram cães com necessidades especiais. O seu desenvolvimento estava a ser comprometido pelo confinamento e falta de exposição a estímulos novos. Libertá-los numa vida para além das suas jaulas é um objectivo e pêras, mas expô-los a coisas que as pessoas acham que eles devem gostar, sem tomar consciência e perceber que a essa suposta “liberdade” a que os sujeitamos, é assustadora, não é bom o suficiente. Claro que sabe bem aos voluntaries serem eles a abrir as portas das jaulas, e não quero tirar-lhes isso, mas não devia ser naquele momento o principal objectivo do resgate e eu suspeito que se formos honestos connosco mesmos admitiremos que “salvar” os animais faz-nos sentir bem e que é esse o nosso principal motivador por detrás do comportamento.

Alguns pegam nesse sentimento para o lado patológico e tornam-se acumuladores compulsivos, com divisões, jaulas e canis cheios de animais que eles “salvaram”, mas que vivem vidas de negligência, de falta de higiene, de falta de cuidados, tanto física como emocionalmente. Outros parecem comportar-se como consumidores impulsivos, originando situações e salvando animais e depois passam ao próximo resgate sem sequer chegar a estriar a sua última aquisição. Se o resgate é um daqueles com elevada visibilidade, ou que se pode tornar num, é muitas vezes suficiente para começar a gerar angariação de fundos sob a forma de donativos, para assim o seu comportamento “quase bom o suficiente” continuar.

Os riscos de tratar os cães como estão ser tratados nesse vídeo são reais. Praticamente tudo acerca da experiência é novo, e potencialmente assustador para os cães. Isto significa que tudo o que estiver associado à experiência poderá ser considerado assustador no futuro. Este tipo de condicionamento é tão eficaz que pessoas que nos tentam vender coisas todos os dias o utilizam a toda a hora. Carros são associados com os sentimentos que uma pessoa tem quando está a olhar para mulheres seminuas ou homens com aparência poderosa. Cigarros e bebidas doces são associados a imagens que representam a liberdade e a diversão. Pense no que cheirinho de uns pastéis de Belém acabadinhos de sair o faz sentir. Não interessa que a textura da relva debaixo das patas dos cães lhes faça doer ou não, se pisar a relva ficar associado com o ficar assustado, seja por o que for que os está a assustar, poderemos ficar com um cão que não quer pisar relvados porque isso está associado com o sentimento de medo. O mesmo é verdade no que toca a entrar num veículo e experienciar toda uma parafernália de cheiros, sons e visões ao mesmo tempo que está a experienciar medo. Não interessa se aconteceu alguma coisa de mal ao cão ou não. A resposta física e emocional de medo são prova suficiente de que o estar com medo é garantido.

Os treinadores são muitas vezes chamados para ajudar a resolver comportamentos problemáticos em cães, e poderá não haver razões obvias para o comportamento do cão. Cães que não entram em carros, ou que não saem de casa. Existem cães que não lhes interessa quanto tempo passam na rua, quando voltam para casa fazem xixi atrás do sofá.

Porque é que nós estamos tão relutantes em exigir mais e melhor das pessoas que “salvam” animais? É como contentarmo-nos com fast-food como uma refeição nutritiva. Existirão sempre aqueles cães que independentemente dos desafios que se coloquem eles vão sempre ultrapassá-los, mas existirão muitos mais que nunca encontrarão a calma e conforto nas vidas que temos para lhes oferecer, devido ao tratamento inapropriado, quando necessitavam de um tratamento imaculado. Será que podemos admitir que a maioria das pessoas que procura adoptar um cão não está preparada para lidar eficazmente com um cão problemático? Estaremos preparados para observar como é que a forma como transportamos os cães afecta o seu comportamento? Poderemos aceitar que nem todos os cães serão companheiros felizes e confiantes dados os recursos disponíveis?

É difícil ver os animais sofrerem abusos e desrespeitos e não querer fazer nada para mudar isso. É esta resposta nas pessoas que me faz gostar mais delas. Sou a favor de fazer alguma coisa, só gostaria de ver que a “alguma coisa” que se anda a fazer fosse tão boa quanto é possível.”

sábado, 3 de dezembro de 2011

A m*da também acontece nas associações de cães abandonados

Costumo ler alguns blogues, aliás tenho aqui no meu blogue, na barra esquerda, os meus blogues preferidos e no Fearfuldogs'blog, um blogue da Debbie Jacobs, uma treinadora de cães com especial interesse em cães medrosos, que tem trabalhado durante anos em associações de cães abandonados tentando melhorar a vida dos cães aterrorizados que por lá chegam, com sucesso, a Debbie colocou agora dois posts que faço questão de traduzir, aliás pedi-lhe autorização para isso. Um deles é este.
Quero ainda acrescentar que sempre pensei que todas as associações de cães abandonados nos EUA eram melhores e diferentes das nossas, mas afinal também existem associações iguais às nossas, e essas associações criam um sentimento de irritação e revolta em todos aqueles que têm conhecimentos em comportamento canino.
"É verdade, a m*da acontece e quando é assim é bom que se saiba. É como aqueles restaurantes de fast-food com sinais na casa de banho a dizer - "Por favor diga-nos se esta casa de banho não satisfaz as suas expectativas em termos de higiene". Se a m*da acontece e você não sabe como é que a poderá limpar?
Na indústria do resgate de animais, poderá considerar falaciosa a utilização do termo "indústria" se quiser, existe muita m*da a acontecer que não fica nos registos e histórias criadas para gerar angariação de fundos para o grupo a efectuar o resgate.
Eu descubro m*da de pessoas que insistem que colocar um cão numa casa e tirá-lo do canil vale sempre a pena, independentemente se houve ou não uma avaliação adequada do cão e das necessidades/conhecimentos do futuro dono. Alguns dirão que as probabilidades são melhores para o cão, 100% hipóteses de morrer no canil contra uma percentagem incerta de sofrer na nova casa, ou seja lá onde for que acaba. Mas não estejam assim tão certos, em muitos casos morrem na mesma. Poderão sofrer emocionalmente e fisicamente ao serem passados de dono em dono, de casa em casa ou de canil em canil. Poderão ser forçados a viver uma vida de confinamento ou isolamento. Poderão ser "adoptados" por traficantes de cães que vendem cães para experimentação ou lutas. Se o cão for de raça e não esterilizado poderá ser usado para criação. Poderá acabar fazendo parte da colecção de uma pessoa que sofre de acumulação compulsiva. Num número surpreendentemente elevado fogem da sua nova casa e não são encontrados.
Quantas associações têm estatísticas acerca de quantos cães estão ainda no seu adoptante original, com donos satisfeitos, um ano a seguir à sua adopção? E se não as têm... porquê? Como é que podemos ficar felicíssimos e excitados por um cão ser adoptado se essas adopções podem ser mal sucedidas? Como pode um grupo melhorar a sua avaliação dos cães e dos potenciais donos sem ver os resultados das suas práticas e procedimentos habituais? Eu já conheço todas as desculpas para não realizar este tipo de monitorização, tempo e dinheiro estão no cimo da lista. Mas eu não consigo aceitá-las. Se nos queremos realmente declarar defensores de animais então o "olhos que não vêem, coração que não sente" ou "longe da vista, longe do coração" não pode continuar.
Se estamos verdadeiramente determinados em salvar os animais ao nosso cuidado, então encontraremos formas de nos certificarmos que estamos a fazer o melhor que podemos por eles. Mas nunca saberemos como fazer isso enquanto não estivermos disponíveis para olhar para o quadro completo e não apenas a viver o momento, como o momento da adopção."

sábado, 26 de novembro de 2011

"Mão Firme" (2)

Na continuação do que escrevi, para que fique claro aquilo que quero transmitir vou-vos dar um exemplo de falta de "firmeza" dos donos que leva a uma situação de potencial abandono ou diminuição da qualidade de vida do cão. Porque é disso que se trata, sempre que existe um cão que exibe inúmeros comportamentos indesejados, irritando constantemente os seus donos, eles acabam por encontrar uma forma de restringir o cão, colocando-o num canil ou numa divisão vazia, mantendo-o no quintal, sem autorização para entrar em casa, ou na varanda durante muitas horas... e no final quando já estão desesperados abandonam ou dão o cão a outra pessoa.
Mas então o que é afinal falta de "firmeza"?
Normalmente essa ideia surge em cães como o Jolly que vou descrever de seguida:
O Jolly é um Retriever do Labrador com uma idade entre o ano e meio e os dois anos, um cão adquirido porque a raça é muito inteligente, afável e sociável, nada agressiva. O Jolly foi adquirido para que as crianças de casa pudessem conviver com um cão, como a casa tem quintal e espaço não faz mal que tenha um porte médio. A ideia inicial era que ele pudesse ser um membro da família na íntegra, que pudesse andar por casa, por todo o lado. Mas embora as coisas tenham corrido bem inicialmente, apenas com os incidentes normais das necessidades, que foram resolvidos, por volta dos 7/8 meses as coisas começaram a complicar-se, começou a roer os fios pela casa, a esvaziar as almofadas e tirar comida de cima do balcão da cozinha, a roubar coisas das mãos dos membros da família e correr com elas na boca sem as devolver, acabando por estragá-las, a saltar para cima das visitas e dos membros da família quando chegam a casa, atirando ao chão as crianças, a ladrar aos cães que passam pelo passeio em frente a casa, a mordiscar as mãos dos donos quando está excitado e a puxar a trela cada vez mais, que com o seu tamanho e força a aumentar levou a que seja passeado apenas alguns dias na semana. Como se tornou impossível tê-lo em casa, fica mais tempo no quintal que dentro de casa, e mesmo quando entra está limitado a uma divisão. Quando fica sozinho em casa, no quintal, fica preso para que não ladre, nem abra buracos no relvado.
Um cão como o Jolly faz com que os amigos e visitas profiram a frase "Ele é muito mimado, precisam de ter uma mão mais firme senão não vão dar conta dele!"
Muito bem dito, apoio totalmente a afirmação, necessitam de facto de ter uma postura mais coerente com o cão de forma a controlar os seus comportamentos. Obviamente que a frase dita da outra forma nos faz pensar em palmadas, esticões de trela, gritos, e tudo o que seja imposição de poder da parte dos donos, mas não é isso que é necessário, pode até parecer que sim e pode de facto parecer que resulta quando de repente o começam a fazer mas é apenas uma ilusão, o Jolly apenas se habitua a ter os comportamentos desejados na presença dos donos, ou quando percebe que eles o poderão castigar, quando não é assim todos os comportamentos indesejados mantêm-se.
Num cão como o Jolly a solução para os comportamentos indesejados passa por várias mudanças de atitude em conjunto, passa por uma maior estimulação mental do cão, dar-lhe actividades recreativas quando fica sozinho, ensiná-lo a passear à trela para que possa exercitar-se e assim ficar mais calmo, precisa de perceber que existem comportamentos alternativos aos que tem em determinadas situações e que esses comportamentos alternativos não só põem os seus donos satisfeitos, como lhe permitem chegar ao que quer na mesma e lhe dá ainda mais uma recompensa como bónus, precisa de uma família que saiba falar a uma só voz com o seu cão, que perceba que seja qual for o membro da família humana que esteja com o Jolly as regras são sempre as mesmas e a exigência no cumprimento dessas regras é também igual.
O Jolly não precisa de donos com dotes de "encantadores de cães" precisa de donos que sejam pessoas normais, que encontrem uma forma clara e objectiva de comunicar com ele.
Bons treinos!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ter "Mão Firme" na minha perspectiva!

Começo este post por pedir desculpa a quem segue aquilo que escrevo pela falta de tempo que tenho tido para escrever aqui. É de facto muito difícil neste momento arranjar o tempo necessário para o fazer, não sou um escritor, e necessito de inspiração para que me saia um post com interesse, aliás isso fica claro na forma como escrevo e nos erros que teimo em dar cada vez que escrevo... enfim ainda bem que não sou escritor.
Mas o tema que me suscitou interesse foi o levantado pela Cláudia Estanislau, através de um vídeo no seu blogue Chamaram-me Safira. A velha questão de ter "mão firme" com o seu cão, mostrar-lhe quem manda. Ai está um assunto importante para ser desmontado e colocado na caixinha do sótão/cave.
Infelizmente nos dias que correm quase sempre os donos que me contactam são seguidores da série "Encantador de Cães", e esta questão vem ao de cima na conversa, mas é engraçado como treinam o cão, lhe alteram o comportamento sem que em nenhum momento usem qualquer técnica demonstrada nessa série, convencidos que lhes estou a dar a fórmula para que o cão saiba que eles é que mandam lá em casa... eu em momento nenhum lhes digo que as técnicas têm esse objectivo, mas eles estão convencidos disso.
Partem desse princípio, porque consideram que esse conceito é básico, mas na realidade é um falso conceito. Como diz o Dr. Ian Dunbar, quando se diz que temos de usar um castigo, não quer dizer que tenha de envolver dor ou desconforto físico, um castigo é apenas algo que diminui a frequência de um comportamento se repetir, mais nada. Da mesma maneira ter "mão firme" é de facto necessário para ter um cão educado, na minha opinião, mas ter mão firme é o quê? O que é que isso quer dizer?
Bem na minha perspectiva isso quer dizer simplesmente ser coerente, ter controlo sobre as situações onde o seu cão vai buscar os reforços que mantêm os comportamentos, cabe-lhe a si enquanto dono fazer isso.
Não há dúvidas disto na minha opinião, tal como não há dúvidas de que é necessário sermos "calmos e assertivos", como diz Cesar Millan, para estarmos predispostos para treinar de forma eficaz o nosso cão, é pena que depois os seus actos nada tenham que ver com o que diz, tinha tudo para ser um bom treinador de cães, assim é apenas uma boa vedeta televisiva.
Quem considerar que não é bem assim deixo-vos mais uma concepção errada de treino de animais, quando vão ao circo encontram por lá muitas vezes os chamados "Domadores de Leões", mas toda a falácia começa pelo nome domador, como se de alguma forma o indivíduo tivesse conseguido subjugar um felino capaz de um matar em 10 segundos. Depois é o chicote, vemos um senhor a agitar um chicote para manter as feras no seu lugar... mas o que não nos apercebemos é que na outra mão os domadores têm outra vara...porquê? Porque nos treinos das habilidades essa outra vara, que tem um espeto de metal na ponta, costuma estar carregada com um belo pedaço de carne crua, que serve de recompensa para fazer Targeting, dar a pata, sentar, saltar por argolas em chamas, rugir, etc. Afinal de contas o chicote na outra mão e o nome são só adereços de cinema, porque a vara que faz o leão obedecer é a outra...
Bons treinos!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dia do animal... a realidade de Beja!

Hoje "comemoraram" mais um dia do animal, digo comemoraram porque eu não o vou fazer enquanto a realidade deste dia for a que todos sabemos que é.
A realidade dos animais de estimação em Beja é a seguinte, ninguém se sente responsável pelo seu animal, essa responsabilidade é substituída por um sentimento de impunidade, porque é mais fácil abandonar que educar o cão, é mais fácil abandonar que levar o cão ao veterinário. Há cerca de ano e meio fiz um levantamento dos cães licenciados nas Juntas de Freguesia do Concelho de Beja e o resultado foi que estavam licenciados cerca de 200 cães e desses 190 eram com licença de cães de caça, havendo apenas 10 cães de companhia licenciados no Concelho de Beja, das freguesias apuradas. Quase ninguém tem hoje em dia, ainda, cães com micro-chip e oficialmente assumidos perante a sociedade, é um número realmente anedótico. Deverão existir milhares de cães neste Concelho, se considerarmos um estudo que indica que 40% da população portuguesa tem um cão, deveriam existir cerca de 14000 cães, por isso existem cerca de 13990 cães fantasmas neste Concelho que não têm qualquer forma de ser associados ao seu dono em caso de se perderem, serem abandonados, fugirem de casa, em caso de roubo, atropelamento, em caso de morderem em alguém, etc.
A boa vontade dos sucessivos responsáveis da Associação Cantinho dos Animais de Beja, não é suficiente para debelar este problema, é como tentar tirar água com um balde de dentro do Titanic depois de embater no icebergue, não conseguem fazê-lo, nem estão na posição de ter de o fazer, não são estas pessoas as únicas responsáveis por resolver eficazmente este problema.
A realidade é que estas pessoas gerem um encargo anual na ordem dos 18000 euros, salvam quase 200 cães por ano e recebem como apoio camarário a água, luz e espaço do canil. Uma associação com 900 sócios, dos quais 600 têm as suas quotas em dia, na minha opinião é uma associação a considerar em todas e quaisquer distribuições de verbas para movimentos associativos, pela sua dimensão e pelo benefício que traz pelo seu trabalho.
É aqui que me dirijo ao Sr. Presidente da Câmara e vereador, já referi várias vezes que a abertura deste executivo é largamente superior a qualquer outro nos últimos 10 anos, e que o interesse demonstrado é muito positivo, mas necessitamos de entrar no âmbito das acções reais de uma vez por todas. As autoridades locais têm de começar a responsabilizar os donos dos 13990 cães fantasmas, e não necessita de gastar nenhum dinheiro, pelo contrário, a falta de verbas que sabemos serem escassas neste momento não serão impedimento, o impedimento só pode ser a importância dada ao problema.
Proponho que de uma vez por todas se sentem na mesa de reuniões as três partes responsáveis na solução do problema do abandono que são as autoridades policiais, a associação e o executivo autárquico. Não se acaba com o problema sem uma fiscalização e responsabilização real e efectiva da GNR e PSP, sem uma mensagem clara do executivo através de acções pela responsabilização de donos irresponsáveis e sem a transmissão de conhecimentos para relações donos/cão saudável e à prova de abandono por parte da associação.
Neste dia do Animal mais do que dizer frases feitas, mais dos que realizar angariações de fundos, mais do que criar eventos oportunistas precisamos que todos os intervenientes e responsáveis pelo problema tomem acções efectivas.
Claro que escrevo tudo isto porque sou defensor dos direitos dos animais, mas a solução deste problema tem repercussões a vários níveis, não serão apenas os cães os beneficiados, serão também as autoridades, que ficarão com uma imagem de maior ética e cumprimento do dever, será a Câmara Municipal que poupará o dinheiro gasto anualmente com o abandono, será a associação que poderá ter condições de lidar com um problema com menor dimensão e será finalmente a sociedade que terá um sentido de cidadania e espírito comunitário mais presente e efectivo.
Os países civilizados não têm abandono de animais a esta escala, porque simplesmente as regras sociais estão presentes na forma de viver de todos e quando alguém julga poder ignorá-las os responsáveis fazem questão de lhes exigir um comportamento social adequado, por mais pequena que seja a regra, ser um dono de cão responsável é ser um cidadão responsável por isso hoje, apelo ao Sr. Presidente da Câmara, dono de dois cães adoptados na Associação Cantinho dos Animais de Beja, que transmita essa ideia tão importante aos cidadãos do seu concelho, pode começar já hoje nesta data simbólica.
Para os voluntários do Cantinho dos Animais um bom Dia do Animal e nunca percam a esperança que tudo valha a pena, mesmo não fazendo voluntariado neste momento faço figas para que vos corra tudo da melhor forma.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A comida de plástico não é mais barata e os aversivos no treino de cães não são mais rápidos.

Escrito por Nicole Wilde.
"Está um artigo no New York Times, na secção Week in Review que compara o preço da fast food com a comida preparada em casa.

Alguns argumentavam que fazer com que as pessoas parem de comer fast food era o valor. Ser menos dispendiosa leva a que faça sentido que as pessoas a escolham, o problema é que não é menos dispendiosa. Não é menos dispendiosa em euros gastos para a comprar nem a longo prazo, nos efeitos cumulativos do elevado teor de gorduras, sódio, baixo teor de fibras. As vantagens para nós é o tempo e a energia gasta a prepará-la, muitos insistem que é essa falta de tempo, devido à sociedade moderna, que promove as idas aos drive-in, pelo menos até olharmos para as horas gastas em frente da Tv., no facebook, blogues, etc.



É citado no artigo o Dr. David Kessler antigo comissário da FDA e autor de “The End of Overeating.” O livro do Dr. Kessler’ é obrigatório para quem tem problemas alimentares e um importante livro para treinadores de cães também. A primeira parte do livro descreve detalhadamente os estudos feitos em animais para determinar como o reforço influencia o comportamento. Foram os estudos que ajudaram os treinadores a compreender que a qualidade do reforço tem impacto na repetição consistente ou não de um comportamento. Ou se o comportamento é mantido. O reforço usado nestes estudos foi a comida.

Dê uma espreitadela num grupo ou fórum de treino de cães e irá presenciar a batalha infindável a ser travada... se é inteligente, eficaz, ético ou mais rápido usar o castigo para conseguir comportamentos dos nossos cães. O castigo por definição reduz a probabilidade de um comportamento se repetir, mas para muitos treinadores e donos de cães o castigo é usado para tentar aumentar um comportamento, sendo esse comportamento outro que não aquele que castigaram. É uma abordagem ao contrário, que resulta vezes suficientes para que as pessoas a continuem a usar. Dá-se uma joelhada no peito do Max quando ele salta para cima de si e é provável que ele pare de lhe saltar para cima e faça outra coisa qualquer. Se ele tiver a sorte do outro comportamento ser do seu agrado, senão o Max será sujeito amais uma forma de castigo até que, se ele estiver disposto a continuar a tentar oferecer comportamentos, finalmente acerta num comportamento que passe a sua aprovação.

Isto pode não ser nada de especial para alguns cães mas para outros pode ser. Existem custos a considerar quando se usa castigos (aversivos). Existem os custos iniciais, os custos na relação dono/cão, os custos no sentido de segurança do cão e os custos na vontade do cão em entrar nesta dança que chamamos treino. Existem também os custos a longo prazo, quando se suprime um comportamento poderemos encontrar outros comportamentos igualmente desadequados a substitui-lo.

No artigo o autor coloca a questão "Como é que nós podemos mudar uma cultura?" A resposta do Dr. Kessler’ foi esta:

“Assim que olho para o que estou a comer apercebo-me que não é comida, e pergunto "o que é que eu estou aqui a fazer?" isso é o começo. Não se trata de achar se é bom para mim, é acerca de mudar o que sinto. E podemos mudar o que as pessoas sentem mudando o ambiente.”

Esta mudança leva a uma vida mais saudável e a hábitos alimentares mais baratos. Eu vou pegar nesta afirmação dele e vou desenvolvê-la no seguinte:

“Assim que olho para o que estou a fazer apercebo-me que não é treino, e pergunto "O que estou a fazer?" isso é o começo. Não se trata se achar se é bom para o cão, é acerca de mudar a maneira como ele se sente. E podemos mudar a maneira como os cães sentem mudando o ambiente.”

Mudamos o ambiente removendo o risco de ser forçado, intimidado, assustado, magoado, etc. Asseguramo-nos que ele sente sempre seguro e que optar pela escolha certa é mais fácil que optar pela errada. Poderá nem sempre parecer fácil, mas a longo prazo é a coisa mais saudável a fazer. Cães medrosos vivem com maiores níveis de stress, não existem razões para exponenciar isso."

Bons treinos!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Susan Garrett acerca do treino "dos biscoitos"...

Este texto foi traduzido do Blog de Susan Garrett uma das minhas treinadoras de cães preferidas, esta senhora é simplesmente extraordinária e não pude deixar de traduzir este post para português de forma a poder ser lido por toda a gente que assim o entenda… passo posts interios a tentar passar esta mensagem e dias a tentar ser um treinador assim e ela simplesmente escreve-o e fá-lo.
“Sabe porque é que algumas pessoas treinariam um cão com o uso da força e intimidação se achassem que não era necessário? A resposta é, acho que ninguém o faria.
Os anormais do Clicker
Apesar da escolha de cada um pela metodologia de treino, estamos todos unidos pelo nosso amor pelos cães. Pense nisto, se você adora cães mas treina com o uso da força então deveria ter um compendio de razões para explicar porque é que acredita que a força é necessária de forma a calar aquela vozinha que sussurra no seu cérebro e pergunta …” e se aqueles anormais do clicker têm razão?” Imagine se existisse um mundo onde poderia treinar um cão a fazer tudo o que desejasse, a ser o melhor animal de estimação que alguma vez existiu, melhor que qualquer cão que alguma vez teve no passado, atingir todos os objectivos em termos de treino em metade do tempo do que seria de esperar, tudo sem nunca efectuar qualquer correcção física ou perder a calma durante o treino, não gostaria de o poder fazer? Alguns de nós vivemos nesse mundo. Um sitio onde os cães nem são culpabilizados ou corrigidos física ou verbalmente. Sim este mundo existe! Não interessa se você treina cães de competição ou cães de estimação, treinar desta forma é uma possibilidade para todos.
Não é o cão…
Se calhar já viu outros treinadores a tentarem treinar sem correcções e esses cães são muito mal treinados, não ouvem perante qualquer distracção. Apenas porque alguém tentou e falhou no “treino com biscoitos” não significa que o método é um falhanço, coloque a hipótese que a aplicação do método foi de facto o que falhou. Eu tenho para mim que a minha educação é limitada, o meu foco no treino de cães tem sido aquilo que me move, construi em primeiro lugar uma maravilhosa família canina e de seguida fantásticos cães de agility, obediência e flyball. No entanto não tenho todas as respostas para todos os problemas caninos. Mas sei que existem mais pessoas por ai a esforçarem-se por encontrar uma forma melhor em todas as áreas do treino canino. Também sei que a maioria da metodologia que utilizo pode ser transferida maravilhosamente para outras áreas do treino canino, se não todas as áreas de treino de cães, gatos, cavalos e até mesmo crianças.
O sumário que se segue traduz a minha visão sobre o treino de cães. (Nota: Reconheço que isto não tem em consideração cães com problemas comportamentais graves é antes para a massiva maioria de cães que vemos no nosso dia-a-dia.) Sabendo que os cães aprendem pelo reforço, o reforço é a chave para todo o treino. Quando as pessoas perdem o controlo sobre o que reforça o cão a única coisa que resta são os castigos. É um ou o outro. Vejo as coisas da seguinte forma, para o cão sem treino a necessidade de usar os castigos aumenta à medida que o acesso descontrolado aos reforços aumenta. Durante os últimos 20 anos tenho olhado para o treino de cães desta forma e sinto que existem duas coisas chave:
Chave número um:
Quanto melhor for a controlar os reforços menos precisará de usar as correcções no treino.
Para treinar com um elevado nível de sucesso o reforço é o requerimento chave. Os cães aprendem pelo reforço. Se tem permitido ao cão encontrar continuamente reforços em comportamentos indesejados, então terá de encontrar algo mais reforçante (o que nem sempre é possível) ou castigar. Não existem mais possibilidades. Mas aqui está aquilo que me entusiasma: Quanto mais criativo conseguir ser a desenvolver, redireccionar e controlar o reforço menos precisará do castigo. Eu escolho treinar sem correcções físicas ou verbais por isso tenho obrigatoriamente de ser brilhante a controlar e saber os reforços dos meus cães. É uma viagem continua e sem fim. Numa ponta do espectro do castigo existe a mais ligeira forma de castigo, que é a ausência de recompensa quando não gosta do que o seu cão está a fazer. Na outra ponta existe o abuso e mau trato. A dor severa com o objectivo de criar medo e extinguir o comportamento. Acho que podemos concordar que nenhum programa de treino promoveria este tipo de castigo por rotina. Falando no geral no treino tradicional serão administrados castigos algures no meio dos dois pontos, seria justo dizer que cada escola define até onde vai. Ao treinar desta forma pode ser pouco rigoroso na sua consciência daquilo que reforça o seu cão. Não é assim tão importante porque pode recuar e controlar o cão pelo castigo em vez de ensinar ao cão auto-controlo e a ignorar todos os reforços que não vêm de si. Agora vamos analisar o que quero dizer com acesso a grandes reforços. Numa ponta temos um cão que vive a vida como descrevo no meu livro “Ruff Love”. O cão trabalha para merecer todos os reforços e os reforços vêm do dono ou pelo dono. Claro que isto não é inteiramente possível, uma vez que o cão vai buscar reforços de todas as pessoas que lhe fazem festinhas, ou quando se deita no sofá confortavelmente ou bebe água fresca na taça. É por isso que para o meu propósito eu refiro o ter acesso a “grandes” reforços em particular aquilo que o seu cão considera “extraordinário”. Na outra ponta desta escala de “grandes reforços” está o cão que vive num mundo sem regras. Este é o cão que rouba comida, brinquedos, persegue outros cães, gatos, ladra sem parar para obter aquilo que quer, vasculha no lixo, rouba comida da bancada da cozinha e claro poderá ser visto a puxar o dono rua abaixo quando anda a passear à trela pela rua…
Então o que isto tudo significa é que se nalgum ponto achar que controlar todos os reforços dá muito trabalho precisará de usar correcções para ter um cão educado e treinado.
Quanto melhor for a controlar os reforços do seu cão menos necessitará de correcções para treinar o seu cão.
Sim é tão simples quanto isso, como diz Bob Bailey… “simples mas nem sempre fácil!”
Chave número 2:
A última chave para treinar desta forma é o uso dos reforços. Um treino eficiente e eficaz tem todos os reforços a serem usados como recompensas e não como engodos. O cão deverá ignorar todos os reforços até à altura de o merecer. Quando se treina desta forma todos os “grandes reforços” são inicialmente grandes distracções para o cão.
Um desafio
Compilei este vídeo para mostrar o que é possível. Tem três hipóteses. Pode escolher não ver, pode ver e pensar “sim mas isto é uma treinadora profissional” ou “sim mas isto é um Border Collie” ou “sim mas isto não vai resultar nas minhas aulas” ou pode ver o vídeo com uma mente aberta para as possibilidades aqui expostas.
Pense em possibilidades e não em limites”

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os 4 Quadrantes do condicionamento Operante

Muitas e muitas vezes num fórum de discussão acerca de comportamento de cães, ao qual não sei porque teimo em ir, fui quase insultado por estar a querer fazer-me passar por bonzinho dizendo que o castigo que uso é negativo... ou então que se é negativo é mau e logo não posso chamar ao treino que faço, treino positivo. É aqui que a Cláudia diria... oh amigo vá lá ver o que é um cão e quem foi o senhor Skinner e depois já falamos...hehehe, estou a brincar...
Vou tentar aqui deixar uma explicação, que não sei se será útil, mas espero sinceramente que sim, que resolva definitivamente as confusões e esclareça afinal de onde surgem os termos.
Para começar quero deixar bem claro que o treino de cães é daquelas coisas que parece envolto numa mística, tal como o treino de qualquer animal, que vem desde a infância, não sei se dos circos e dos animais que infelizmente por lá fazem todo o tipo de espectáculos. Esta mística deixa espaço ao surgimento de toda uma gíria, um dialecto, que parece ser apenas do conhecimento de alguns, dos entendidos do assunto.
Quando estava a tentar aprender acerca de treino de cães isto foi algo que me irritou solenemente, e ainda irrita por acaso, ficava sempre a boiar sem perceber que raio é que certos termos queriam dizer. Acho que ninguém beneficia em nada por se criar uma mística em volta de termos técnicos do treino, eles devem ser divulgados e explicados a toda a gente que demonstre interesse em saber o que eles querem dizer.
Dito isto vamos aos quadrantes do Condicionamento Operante... a base da mudança de comportamentos de todos os animais.
Quando temos um cão existem comportamentos que queremos aumentar de frequência e comportamentos que queremos diminuir de frequência ou extinguir, então podemos dizer que um reforço é tudo aquilo que acontecendo em conjunto com uma outra acção tem tendência a aumentar a probabilidade dessa acção acorrer novamente e um castigo é tudo aquilo que acontecendo em conjunto com uma outra acção tem tendência a diminuir a probabilidade dessa acção se repetir novamente.
Os reforços aumentam a probabilidade dos comportamentos e os castigos diminuem a probabilidade dos comportamentos.
Para actuar sobre a probabilidade usando reforços e castigos podemos adicionar ou remover qualquer coisa, este é o significado do positivo (adicionar) e o negativo (remover).
Podemos usar:
1- Reforço Positivo: Aumentar a probabilidade de um comportamento adicionando qualquer coisa. (Ex: Dar um pedaço de comida cada vez que se senta, dar a bola cada vez que vem ter connosco depois de o chamarmos.)

2- Reforço Negativo: Aumentar a probabilidade de um comportamento removendo qualquer coisa. (Ex: Estrangular o cão até ele se sentar e afrouxar a estranguladora assim que ele se senta, chamar o cão e dar um choque na coleira de choques até ele virar na nossa direcção)
3- Castigo Positivo: Diminuir a probabilidade de um comportamento adicionando qualquer coisa. (Ex: Dar um esticão na trela cada vez que o cão puxa no passeio, dar uma jornalada ou palmada no cão cada vez que ele faz as necessidades no local errado)
4- Castigo Negativo: Diminuir a probabilidade de um comportamento removendo qualquer coisa. (Ex: Ignorar o cão por nos saltar para cima de forma a chamar a nossa atenção até que ele ponha as quatro patas no chão, deixar o cão sozinho durante um período de tempo se ele nos mordiscar as mãos com demasiada força quando é cachorro)

Para melhor percepção do que explico aqui fica mais uma ilustração:



No Treino Positivo apenas usamos a parte verde da ilustração, o Reforço Positivo e Castigo Negativo, por uma questão de ética e respeito e porque está mais que estudado que os outros dois quadrantes só trazem coisas más consigo.

Bons treinos!

Quem quer aprender acerca de treino positivo????

QUER??!! Então aqui fica mais um sitio para aprender "qualquer coisa"... a Claudia Estanislau está sempre a divulgar esta revista... e vale bem a pena sim!

http://issuu.com/rec.positivo

Oh Claudia e Emmanuelle ... e uma coisa assim escrita em português?!

domingo, 31 de julho de 2011

Condicionamento Operante... ilustração

Esta ilustração representa aquilo que tento tranmitir em termos de Condicionamento Operante... e de uma forma espectacular.


Retirado de:
http://www.flickr.com/photos/lilita/5409352150/in/set-72157624598500743

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Teoria da aprendizagem... olhem à vossa volta e vejam


No filme Matrix (o primeiro), no final, o Neo vê o mundo em código, entende tudo à sua volta como é na realidade e podendo assim ultrapassar os seus limites.
O que proponho com este post e dentro da lógica da Karen Pryor, em "Don't Shoot the Dog", é que se veja a aprendizagem como ela é decomposta em comportamentos, reforços, castigos, extinções e repetições... tudo isto se passa à nossa volta.
A educação é baseada nas teorias da aprendizagem, existem várias, umas dão enfoque a determinadas áreas e outras a áreas diferentes, mas todas elas têm o seu lugar.
Podemos dividir as teorias da aprendizagem em dois ramos: aprendizagem por influência interna e aprendizagem por influência externa. No primeiro ramo incluem-se a capacidade cerebral que tem a ver com a fisiologia do sujeito e difere de espécie para espécie e a capacidade cognitiva, onde podemos inserir as teorias do Piaget, Construtivismo, de Gardner e os Estilos de Aprendizagem. No segundo ramo podemos dividi-lo em influências no indivíduo e por interacção em grupos sociais. Nas interacções sociais existe a observação, a aprendizagem social, as práticas comuns e a cognição social. Nas influências no indivíduo inclui-se o Behaviorismo (Condicionamento Operante).
Depois desta introdução chega-se à conclusão que podemos apenas ter influência num indivíduo através dos princípios das teorias do segundo ramo e nessas como o nosso objectivo é influenciar o indivíduo podemos educa-lo seguindo os princípios do Condicionamento Operante.
Um indivíduo tem um reportório de comportamentos dependendo da situação em que se encontra, que foram aprendidos de forma a lidar com a situação e ter os melhores resultados possíveis. Isto acontece em todas as espécies de animais, incluindo o homem. Quem aprende condicionamento operante e o aplica no dia-a-dia no treino de cães acaba inevitavelmente por ver o mundo decomposto em comportamentos, começamos a ver padrões de comportamento, a perceber onde o individuo vai buscar o reforço, qual é o estimulo que desencadeia o comportamento, etc.
Como treinador de cães em positivo é muito desagradável ouvir vezes e vezes sem conta a expressão "mas se o ensinar com comida ele só o vai fazer por causa disso", da mesma forma que acho curioso que numa conversa acerca da educação de uma criança da minha família eu aconselhava o pai a usar o Principio de Premack, e este para meu espanto diz "mas assim ele fica manipulador, só fará as coisas com o objectivo de ter o que quer"...
O que quero deixar aqui bem explicito é que qualquer miúdo ou adulto executa comportamentos para obter de volta coisas que procura ou para evitar as coisas que não quer e só executa esses comportamentos com esse objectivo, quando educamos alguém não devemos negar isso, não podemos fazê-lo sob pena de deixar ao acaso as consequências de cada comportamento desadequado, o melhor que temos a fazer é procurar uma forma do indivíduo realizar os comportamentos que queremos, que são os mais adequados, para ter o que quer, controlando os reforços e as coisas boas da sua vida.

Dedico este post ao Hugo...Bons treinos!

terça-feira, 19 de julho de 2011

"Não"... no meu ponto de vista!

Muita gente faz da palavra "Não" o principal vocábulo do ensino e educação do seu cão e até do seu filho. A palavra é usada e abusada e das duas uma ou se torna amplamente insuficiente ou se torna insignificante. O cão é um animal complexo não podemos achar que com uma palavra podemos educar um cão, estabelecer uma relação baseada em interacções em momentos negativos apenas para corrigir o cão é rumar ao insucesso. Porque quem é que liga alguma coisa a um dono que só aparece ou se dirige a nós para chatear... ninguém... e será que a consequência do "Não" é assim tão má que não valha a pena continuar o que se estava  fazer? Muitas vezes sim.
Na minha comunicação com os meus cães costumo usar três palavras para marcar os seus comportamentos, uma das quais o "Não", uso-o apenas como marcador de comportamentos que não quero, não lhe atribuo qualquer sentimento, não sai com fúria ou irritação, sai como se estivesse num jogo de perguntas e respostas e o não é como o som que se ouve no final de uma resposta errada. É apenas isso uma maneira de comunicar que o cão errou, tem de mudar de comportamento porque aquele ou não o vai levar ao reforço que procura ou o vai levar a um castigo que não quer.
Há quem considere melhor usar outras palavras para não ter uma conotação tão negativa, mas acho pessoalmente que a carga negativa não está na palavra, está na forma como é dita... foi algo que aprendi com o Morgan Freeman, numa entrevista em que ele dizia isto acerca da palavra "Preto", falando do racismo.
Para além desta palavra uso mais duas como disse, o "Yes" como marcador positivo, para dizer ao cão que acertou e recompensar esse comportamento e o "Good" para lhe transmitir que está a ter o comportamento certo mas que ainda não acabou, tem de continuar para chegar à recompensa.

Bons Treinos!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Os humanos e o feedback

No nosso mundo somos os seres superiores, com cérebros que nos consomem milhares de kcal, este cérebro gigantesco tem o propósito de nos relacionarmos com outros humanos, com o mundo à nossa volta. No entanto com tanto esforço evolutivo neste sentido algo está a correr mal, os humanos são péssimos a dar e receber feedback, uma coisa básica num ser humano.
Eu diria que muitos dos problemas que vemos passar nas notícias nasceu dessa incapacidade, patrões que se fecham nos seus gabinetes escondidos por detrás de uma hierarquia rígida onde o feedback do trabalhador para o patrão não é bem-vindo e ao mesmo tempo os trabalhadores recebem pessimamente o feedback dos seus patrões e desresponsabilizam-se de todos e quaisquer maus resultados, Ken Blanchard (guru da liderança e organizações) tem no seu site:
"Mencione a palavra feedback e a maioria das pessoas conluiem imediatamente que irão experienciar algo de desconfortável e negativo. Mas imagine o mundo sem feedback, deixaríamos de aprender, de crescer, de nos melhorarmos, de melhorar a nossa performance, o nosso comportamento e as nossas vidas. No entanto a maioria de nós resiste a dar e receber feedback porque não conseguimos ver o seu lado bom.
Os estudos da Ken Blanchard Companies indicam que existem três grandes razões para que as pessoas resistam a dar feedback são:
  • Têm medo da outra pessoa ficar zangada;
  • Tentaram antes e não obtiveram resultado;
  • Não sabem ao certo como fazê-lo de forma eficaz.
Dar feedback de forma eficaz é uma ferramenta poderosa."
No que toca ao treino de cães, como diz o Ian Dunbar, as pessoas são péssimas a dar feedback, e realmente esse é o cerne da questão, estamos habituados ou a não dar ou a dar apenas feedback negativo, pelo que sempre que vamos receber feedback esperamos algo negativo, o treino positivo é precisamente uma forma mais exacta e cuidada de usar feedback, estamos sempre atentos aos momentos certos de usar esta ferramenta e mudar o comportamento dos nossos cães através de todas as experiências das suas vidas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Perspectivas de normalidade...

O ser humano vive condicionado no seu ambiente, seguindo uma série de rituais/comportamentos ensinados/aprendidos ao longo da vida. Somos animais sociais, pelo que saber o que fazer em cada situação é importante para que possamos inserir-nos no grupo e sermos aceites.
Os cães também são animais sociais e também sentem necessidade de ser aceites pela família humana, mas os comportamentos inatos e o seu sentido de normalidade obviamente que é diferente do nosso. Para que um cão encare como normal um determinado comportamento, normal para os humanos, temos de o ensinar.
Veja-se por exemplo a hora da refeição, muitos donos de cães consideram que o cão normal deveria deitar-se calmamente enquanto ingerem a sua refeição à mesa. Quando o cão lhes salta para cima ou coloca o focinho ou patas na mesa, ficam escandalizados, afirmando que não entendem este comportamento porque nunca deram nenhuma comida ao cão quando estão à mesa.
Mas para o cão o que se passa é que está um bife suculento no seu prato que emana um cheiro muito melhor que qualquer ração para cão, por isso, mesmo nunca tendo comido nenhum bife, o sítio mais agradável para estar é o mais próximo do bife que conseguir. Este comportamento está a ser recompensado por poder cheirar o próprio bife... não precisa de o comer... humm que cheirinho...!!!
Por isso o normal não é estar deitado a três metros da mesa... o normal para o cão é estar com o focinho colado ou dentro do prato!
Dito isto, temos de lhe ensinar que o comportamento aceite e querido por nós, humanos, é que ele esteja deitado ou sentado a alguma distância da mesa, mas a nossa satisfação não é suficiente como é óbvio... como tive oportunidade de explicar no post anterior. Temos de mudar as consequências do comportamento em si para que o cão pondere executar outro comportamento que vá de encontro com aquilo que consideramos normal. Podemos ter duas abordagens distintas no meu entender.
1- Sempre que o cão salta para cima de nós ou da mesa, marcamos com um “Não”, ou qualquer outra palavra, e colocamos o cão numa divisão isolada por cinco minutos, sem ter acesso ao sítio da refeição, o que fazemos com isso é castigar negativamente o cão retirando-lhe o acesso ao que quer, passado esse tempo deixamo-lo voltar a estar connosco.
2- Por outro lado podemos ensinar um comportamento incompatível, colocando um tapete ou a própria cama do cão na divisão onde são feitas as refeições mas num sitio que ache adequado e quando ele pisar a cama/tapete, marque e recompense... faça isso umas vezes e depois espere que ele se sente ou deite nesse sítio... marque e recompense... rapidamente ele vai permanecer deitado à espera de mais uma recompensa... pode deixar de marcar e ir apenas atirando uma recompensa de tempos a tempos de forma aleatória e depois progressivamente mais intervalada... aconselho vivamente que utilizem esta segunda forma de ensinar o cão, conseguirão com isto um cão cooperante e confiante no dono. Em relação aos reforços aconselho que mantenham uma base aleatória até conseguir que passe toda a refeição deitado e apenas ser recompensado no final... os espaços de tempo progressivamente maiores poderão quebrar o comportamento, porque às tantas 45 minutos de espera para um quadradinho de queijo ou uma rodela de salsicha não compensa... mais vale ir cheirar o bifinho... é preferível manter o tempo aleatório, assim o cão não sabe quanto tempo tem de esperar, pode ser pouco ou muito, por isso mais vale esperar para ver.

Bons treinos!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dar valor à relação

Todos os donos de cães adoram o facto do seu cão, como qualquer cão do planeta Terra, adorar o seu dono. Aliás muitas pessoas tornam-se donos de cães para terem acesso a esse amor incondicional, devido a lacunas afectivas na sua vida.
No entanto ficam destroçados quando eles, tal como os filhos, a quem também muitos pais dedicam a sua vida, um dia optam por outras actividades em detrimento de estar com eles.
Os cães são seres vivos, com interesses, não me canso de dizer isto, cada vez que faço uma sessão de treino pela primeira vez com uma família esta frase saí-me da boca... parece-me necessário que os donos interiorizem este conceito. Eles têm personalidade, interesses, vida própria, que vai muito além da nossa, não são extensões ou parasitas da nossa vida.
Tendo dito isto, pensando nos nossos patudos, quantas vezes somos ignorados? Quantas vezes perdemos o controlo ou cedemos por cansaço a uma "psicose" do nosso cão?
O facto é que existem comportamentos auto-reforçantes, recorrentes desses interesses, perseguir uma folha a voar é reforçante no momento da própria perseguição, cada passada é um reforço. Por isso para manter o controlo na vida dos nossos cães, porque não são só as folhas que são perseguidas, temos de criar valor noutras actividades que são controladas por nós.
A nossa relação com o nosso cão pode ser muito pouco valiosa se pouco de bom acontece quando estamos presentes. Tive um cão, o Black, do qual tenho muitas saudades, que me ensinou esta grande lição, a relação entre o dono e o cão pode ser mais importante que tudo o resto na vida de um cão, mas para isso não podemos encarar a situação como um dado adquirido, temos de investir nessa relação diariamente. Não era eu que o alimentava, mas era eu que o passeava todos os dias, era eu que o acariciava todos os dias e lhe permitia estar na minha companhia por períodos longos do dia... em casa dos meus pais mais ninguém lhe permitia ou fazia nenhuma dessas coisas, eu era o portador da boas noticias e portanto a pessoa mais importante da casa.
Se queremos um cão que veja em nós um reforço temos de fazer mais do que trazer o cão para nossa casa, temos de ser o portador de boas notícias.
Um treinador dizia, tudo tem de passar por mim antes de chegar ao cão, o brinquedo passa por mim para chegar a ele, o acesso à comida, o acesso à rua, etc. Como? O cão quer ir brincar com outros cães no parque, pedimos que se sente e olhe para nós, recompensamos tirando a trela e permitindo que se divirta.
Se queremos estar sempre em controlo do nosso cão temos de nos tornar o veículo para atingir os reforços e esses reforços não são só os que usamos no treino, é tudo aquilo que o nosso cão quer e gosta.
Bons treinos!

quarta-feira, 23 de março de 2011

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Logotipo Final (julgo eu)

Olá a todos,

Desde já agradeço todas as respostas relativas ao novo logotipo, realmente depois de muito olhar para as hipoteses concordo que o segundo é bastante mais de acordo com o tipo de treino e com as ideias que defendo.
Mas ainda assim cada vez que olhava parecia faltar qualquer coisa, e resolvi melhorar o logotipo e este foi o resultado.
Mais uma vez espero pelos vossos comentários em relação ao logotipo, podem transmitir livremente as vossas opiniões.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Novo logotipo (2)

Olá a todos... ando a tentar criar um logotipo novo para o bomcaopanheiro... já tinha colocado a primeira hipótese, é a que está no cabeçalho do blog... fica aqui a segunda... ficam à vontade para dar o vosso feedback.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Interagir com cães medrosos...

Texto escrito por Nicole Wilde, em http://www.gentleguidance4dogs.com/:
Qualquer pessoa que realize trabalho numa associação de cães abandonados seja por quanto tempo for vai certamente encontrar a sua quota-parte de cães medrosos.
Ao trabalhar com cães medrosos é crucial entender que a linguagem corporal os afecta. A maneira como nos movimentamos e o que fazemos tem um impacto directo na resposta emocional do cão. Percepcionar os pequenos detalhes da linguagem corporal humana no que ao cão diz respeito permitir-nos-á parecer menos ameaçadores e a ganhar a sua confiança. Ser capaz de colocar um cão medroso mais à vontade é uma ferramenta inestimável para um voluntário de uma associação de cães abandonados, para pessoas que fazem FAT’s e para donos.

As seguintes dicas relativamente à linguagem corporal humana são aplicáveis na interacção com qualquer cão, mas são especialmente importantes quando estamos a lidar com um cão medroso. Adopte estes cuidados e ensine-os a outras pessoas que interajam com cães medrosos:

1. Deixe o cão vir até si. Se o cão está assustado, devemos permitir-lhe que decida se vai aproximar-se ou não. Não o restrinja ou o force a aceitar o contacto de outrem. Lembre-se da resposta instintiva de “luta ou fuga", se lhe retirar a oportunidade de fuga a escolha do cão só poderá ser uma.

2. Vire-se de lado. Estar frente a frente para o cão é mais intimidatório que ficar parcial ou completamente de lado, até virar apenas a cabeça de lado fará um cão assustado ficar menos ansioso.

3. Não fixe o olhar…por favor! Um olhar fixo e directo é muito conhecido por entre o mundo animal (e no Metro de Nova York!). É perfeitamente normal olhar para o cão, apenas suavize a sua expressão e não olhe fixamente directamente para os olhos do cão.
4. Não ande a pairar. Inclinar-se sobre um cão medroso poderá aumentar a sua ansiedade para um nível que se torne defensivo.

5. Acaricie o cão de forma adequada. Aproximar-se de cães através de carícias na cabeça é uma péssima ideia. Tente visualizar esta interacção do ponto de vista do cão, uma palma da mão a aproximar-se de cima pode ser uma coisa assustadora. Costumo fazer demonstrações com crianças para ensinar-lhes a acariciar apropriadamente os cães. A criança desempenha o papel do cão. Digo-lhe que a vou acariciar de duas maneiras diferentes, e ela dir-me-á qual delas é a mais agradável. Primeiro levo lentamente a minha mão em direcção à bochecha da criança e acaricio-a, sorrindo e dizendo “lindo menino”. Depois aproximo bruscamente a minha mão da cabeça da criança e dou umas pancadinhas repetidas e digo em voz alta “lindo menino, lindo menino” Os miúdos invariavelmente gostam mais da primeira opção. Se os cães pudessem responder por eles próprios, nove em cada dez diria que gostavam mais da primeira opção também. Não se trata de dizer que os cães não podem ser acariciados no topo da cabeça, mas essas pancadinhas não são um bom método para a aproximação inicial. É mais sábio fechar a mão e mantê-la virada para baixo por baixo do nariz do cão para que possa cheirar, depois faça umas carícias no peito do cão e vá gradualmente movendo a mão por um dos lados até à cara ou corpo do cão, se notar que o cão está a sentir-se confortável com isso. Não agarre bruscamente a coleira de um cão, qualquer cão.

6. Baixe-se, não agarre por cima. Os cães pequenos em particular são muitas vezes agarrados bruscamente de cima quando se quer levá-los ao colo para outro sítio. Movimentos rápidos, directos ao cão, por cima da cabeça são muito mais assustadores que movimentos lentos e indirectos. Para levantar um cão pequeno do chão, agache-se, acaricie o cão durante uns momentos e depois de forma gentil coloque as mãos por debaixo da barriga e do peito e levante-o.

7. Tenha atenção ao seu sorriso. Enquanto os humanos interpretam o sorriso como algo amigável, o cão pode não gostar muito de ver o sorriso colgate. Uns dentes espectaculares são, no fim de contas, também muito conhecidos no mundo animal. Uma amiga minha acompanhou-me uma vez numa visita aos lobos do centro de resgate. Ela sentou-se pacientemente no chão, sem se mexer. Finalmente um grande lobo preto aproximou-se para a investigar. Ela não se conseguiu conter e sorriu com todos os dentes da sua boca. O lobo saiu disparado como se ela tivesse tentado dar-lhe uma paulada. A lição? Guarde os sorrisos colgate para os encontros amorosos ou com outros humanos. Sorria a canídeos com a boca fechada!
Bons treinos!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nada a provar... objectivar o sucesso!

Algo que muitas vezes me acontece durante uma "consulta" de treino, ou até mesmo antes, é o dono a oferecer-se para demonstrar o comportamento que levou a que me tenha telefonado. Querem criar a situação que inicia o comportamento problemático. Querem levar o cão a passear e passar por outros cães para que ele fique reactivo aos outros cães. Querem ir buscar a tigela da comida ou um osso de roer e dá-la ao cão para que eu veja como ele reage quando a tentamos tirar.
Eu não preciso de o ver! Eu já o vi antes! O que eu gostaria de ver era o cão deles nunca ter esse comportamento. O nosso objectivo conjunto (eu e os donos) tem de ser o de nunca mais ver esse comportamento. Esse é o caminho mental queremos seguir. Uma encenação de um comportamento problemático pode levar semanas a contra-condicionar, dependendo da severidade do problema e da sensibilidade do cão. Temos de nos focar na solução, nos passos necessários para a atingir.
Isto é algo que distingue também os treinadores, a maioria dos treinadores que baseiam o treino na recompensa não querem sequer ver o comportamento em questão, sabendo do que se trata e das repercussões que traz encená-lo. Estamos interessados na "reabilitação", estamos atentos aos pequenos sinais de se estar a aproximar o ponto de ruptura e mantemo-nos nesse limite, recompensando comportamentos alternativos e aceitáveis, criando outro estado de espírito relativamente a essa situação que antes era negativa para ele, não queremos de forma nenhuma passar esse ponto! Faço isto não como demonstração de conhecimento, ou para provar seja o que for, mas pelos donos e principalmente pelo cão.

Bons treinos!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Campainha da porta!!! WOOOFF! WOOOF!

Existem muitos cães com reacções exuberantes à campainha de casa. Muitos até reagem com muito entusiasmo a campainhas de casa na televisão. Não interessa onde seja uma campainha de casa, para alguns cães, é algo para ficar completamente doido! Não é interessante que raramente encontramos cães reactivos desta maneira a campainhas de telefones!? Porque será?
Como costume encontramos as respostas para as nossas questões quando olhamos para a situação pela perspectiva do cão. O que acontece quando a campainha de casa toca? A experiência que o cão tem desse som é que ele precede a abertura da porta e do outro lado da porta estará ou um estranho (para o cão) ou uma pessoa conhecida cuja chegada excita o cão. Se o cão é ainda cachorro, quando isto começa a acontecer, é muito provável que se aproxime um momento de grande excitação, porque toda a gente vai querer fazer-lhe festas, brincar com ele, etc.
Sempre que isto acontece, o cão vai ficando mais excitado cada vez que a campainha toca, antecipando aquilo que se aproxima. Algumas vezes fica tão excitado que todo o cenário muda radicalmente. De um momento para o outro o seu dono fica incomodado com o seu comportamento (agora que já é adolescente e tem 20 ou 30 Kg), e pelo facto de saltar para cima das visitas coisas que sempre foram recompensadas. Mas nesta fase já houve uma aprendizagem e a energia demonstrada pelo cão é muito alta nestas situações, para o cão a campainha prediz eventos excitantes e recompensantes.
Então e a campainha do telefone? Na maioria das casas o telefone toca mais vezes do que a campainha da porta. Quando o telefone toca... NÃO ACONTECE NADA PARA O CÃO! Não aparece nada de novo, ninguém dá atenção ao cão, ninguém fala ou grita para ele. Por isso a campainha do telefone não prediz nada, pelo que não vale a pena prestar-lhe qualquer atenção. Então e se a campainha da porta tocasse ao longo do dia e nada acontecesse? E se a campainha da porta tocasse e não aparecesse ninguém à porta? A campainha toca e toda a gente continua a fazer aquilo que está a fazer, ninguém vai à porta, ninguém aparece e ninguém fala ou dá atenção ao cão... nada acontece.
No inicio, se for um cão esperto, reagirá como sempre o fez, ou até o fará com mais entusiasmo, para ver se os humanos deixam de estar distraídos...AFINAL A CAMPAINHA TOCOU MALTA!!! EU NÃO QUERO SER CHATO MAS A CAMPAINHA TOCOU!!! VÁ LÁ PESSOAL TÃO SURDOS OU QUÊ???!!!
E se uma e outra vez ninguém reagisse e nada acontecesse? Eventualmente reagir a algo que resulta em nada torna-se uma perda de tempo e energia. A campainha da porta torna-se em algo parecido com a campainha do telefone... é irrelevante... de vez em quando alguém aparece do outro lado.
Haverão ainda alturas em que a campainha da porta produzirá uma pessoa do outro lado da porta. E ai vamos nós outra vez....! Mesmo se a campainha produzir resultado uma em cada 50 vezes, ainda assim vale a pena esperar. O problema aqui é que o cão continua na expectativa, quando aparecer alguém à porta ele vai fazer ainda pior.
Mas se o dono, cada vez que a campainha tocar, disser "senta" e recompensar isso!? BOA! Cinco vezes por dia o cão ouve a campainha, depois "senta" e recebe uma recompensa. De vez em quando recebe o bonus de alguém do outro lado da porta.
Vamos fragmentar este evento... a campainha seguida de reactividade ou seguida de nenhuma reactividade é igual a nada. A campainha seguida de um "senta" é igual a uma recompensa e à possibilidade de uma pessoa do outro lado da porta. A coisa lógica para o cão é sentar-se sempre que tocar a campainha da porta para assegurar que alguma coisa boa aconteça.
Poderá estar a perguntar-se, "Mas se o cão não reage à campainha do telefone porque nada acontece porque é que eu tenho de lhe dar uma recompensa pelo "senta" com o som da campainha da porta para manter o comportamento? Não poderia apenas não fazer nada?" Poderia não fazer nada quando a campainha da porta toca, mas nalguma das vezes alguém estaria do outro lado da porta. Com o telefone é garantido que nada vai acontecer na perspectiva do cão, a não ser que o telefone toque e a casa comece a arder... mas em principio isso raramente acontecerá... hehehe!

Bons treinos!