quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Socialização de cachorros em Portugal

A Socialização de cachorros é a coisa mais importante a ter em conta quando se adota um cão. Não existe outro assunto com tanta importância na vida do cachorro como este. O comportamento adulto do seu cão em tudo depende da forma como for socializado. O que é a socialização? A socialização é a habituação de um cachorro aos estimulos do ambiente que o rodeia de forma a encará-los com naturalizade, para que demonstre um comportamento adequado perante esses estimulos. Qual é o periodo mais adequado para socializar um cachorro? Em todas as áreas existem pessoas que são a referência no estabelecimento de orientações técnicas, neste assunto são os especialistas em Comportamento Animal, os Veterinários especialistas em Comportamento, por exemplo. Por isso uma das referências é a American Veterinary Society of Animal Behavior (AVSAB) que tem vários documentos de posicionamento e um deles é acerca da socialização de cachorros que deixo aqui para quem queira ler.
Podemos ler neste documento o defendido por mim sempre neste blogue. O periodo mais favorável à socialização de um cachorro é até aos 3 meses de idade, é o periodo em que o cachorro está mais aberto e curioso e mais disponível a receber estimulos do exterior. Por isso até aos 3 meses o cão deve conhecer o maior número de sons, animais, pessoas, objectos estranhos, etc. que o dono conseguir, quanto mais melhor.
Mas em Portugal isto é um problema, é que está contra-indicado pelos Veterinários portugueses, pelo menos por uma grande maioria deles. Os Veterinários em Portugal defendem a saída de casa a partir dos 4 meses que é a altura em que o cachorro tem o esquema vacinal completo. Mas então como é possivel os Veterinários Especialistas orientarem num sentido e os Veterinários "generalistas" dizerem o contrário? Esta é a pergunta principal. Os Veterinários portugueses, devido a falta de opções, fizeram uma opção. Cabe ao veterinário salvaguadar a saúde do cão e por isso não pode defender a deambulação na rua sem completar as vacinas, mas têm um problema, o cão ao sair de casa aos 4 meses não vai ser tão sociável como poderia ser. Então, tal como diz no documento de posicionamento, a solução reside na existência de escolas para cachorros, que têm como intuito a socialização do cachorro num ambiente controlado e livre de doenças. Sitio onde o cachorro deve andar entre os 2 meses (altura em que vai para casa do dono) e os 3 meses.
Então e onde existem estas Escolas/Aulas para cachorros? Em Portugal quase que não existem. Existem alguns treinadores que já as desenvolvem. Porque é que não existem então por todo o lado se fazem falta? Porque os Veterinários não falam dessa necessidade, dizem apenas que a partir dos 4 meses vai a tempo de se socializar, o que é falso. Os próprios Veterinários e instituições ligadas à Medicina Veterinária é que deveriam alertar para o fato de não existirem soluções no nosso país para a socialização correta dos cachorros e esse fato leva a cães com problemas comportamentais que constituem o grosso do número de animais que se encontram a encher os canis de associações e municípios devido ao seu abandono. A maioria dos animais abandonados e por consequência eutanasiado são-no devido ao seu comportamento desadequado e o principal motivo que está na sua origem é uma socialização incorreta.
Se queremos soluções para estas problemáticas temos todos de contribuir de forma coordenada e unida, já que escolhemos cada um à sua maneira estar envolvido neste mundo dos animais de estimação.

Vivam os vossos cães!

domingo, 8 de abril de 2012

Treino de cães

Existem pessoas no treino de cães com os mais variados objectivos pessoais. Cada um tem o seu, no meu caso o objectivo é fazer uma ponte entre toda esta amalgama de termos, conceitos, métodos, técnicas, etc. e o dono comum que tem os seu cão e não tem os conhecimentos práticos de como torná-lo num parceiro bem comportado. Esta situação na maioria dos casos leva a perda de qualidade de vida do cão ou abandono, coisa a que assisti durante 8 anos da minha vida enquanto voluntário de uma associação de cães abandonados.
Quero simplesmente transformar técnicas de treino supostamente complicadas em coisas práticas e acessíveis a qualquer dono com vontade de ter consigo o seu amigo.

A escolha pelo treino positivo ou treino de reforços progressivos teve influências a vários níveis e foi uma coisa progressiva ao longo de anos da minha vida. Fui procurando soluções cada vez com menos recurso a métodos aversivos.
A primeira conversa que iniciou esta descoberta foi com o meu avô. Até há pouco tempo nem me tinha apercebido disto, mas agora percebo o significado desta conversa e o porque de ela nunca mais ter saído da minha cabeça. Antes de a contar quero apenas referir que os meus avós foram caçadores e sempre tiveram uma ligação muito grande com os seus cães de caça e com o treino desses seus cães, tal como o meu pai. Cresci rodeado disto e foi aqui que nasceu o meu bichinho do treino de cães, passei meses a passear diariamente os cães de caça com o meu avô paterno para treinar esses cães e durante o passeio fui recebendo conhecimentos da parte dele acerca do processo.

Num desses dias ele falou-me dum galgo que teve, numa altura em que nem dinheiro tinha para uma espingarda de caça, nem havia a abundância de carne à mesa como hoje em dia e por isso a caça era uma fonte importante de carne na altura. Era um cão, segundo ele, que conseguia fazer coisas fantásticas, poucas eram as lebres que lhe conseguiam escapar, corria durante vários minutos atrás de uma sem desistir. Todos os donos de galgos na altura queriam ter descendentes do seu cão. Um dia numa dessas saídas para caçar ele correu sem desistir atrás de uma lebre e desapareceu durante minutos, passado um tempo voltou com a lebre na boca, cansado, em vez de a dar imediatamente ao meu avô, como sempre fazia, não o fez, decidiu mordiscá-la, rasgar-lhe a pele e começar a mastigá-la a alguns metros do meu avô. Ele irritado bateu-lhe, coisa que nunca tinha feito. O dia terminou e as coisas passaram. No dia que se seguiu de caça, as coisas correram como costume até que o meu avô começou a estranhar o aumento de corridas sem sucesso do cão, demorava a voltar, mas vinha quase sempre sem nada na boca, coisa que não era hábito. Então ele pressupôs que algo se passava e que estava relacionado com os acontecimentos desse tal dia, por isso, começou a dar-lhe pedaços de pão sempre que ele lhe trazia a caça e outras coisas à mão, começou a tratá-lo com mais afecto e a partir de um certo dia o galgo começou a trazer-lhe as lebres na quantidade normal e a trazer lebres que tinham estado enterradas no campo por ele, ele tinha voltado a confiar no meu avô.

Esta história ficou sempre na minha mente e agora sei porquê.

Vivam os vossos cães!