sábado, 26 de novembro de 2011

"Mão Firme" (2)

Na continuação do que escrevi, para que fique claro aquilo que quero transmitir vou-vos dar um exemplo de falta de "firmeza" dos donos que leva a uma situação de potencial abandono ou diminuição da qualidade de vida do cão. Porque é disso que se trata, sempre que existe um cão que exibe inúmeros comportamentos indesejados, irritando constantemente os seus donos, eles acabam por encontrar uma forma de restringir o cão, colocando-o num canil ou numa divisão vazia, mantendo-o no quintal, sem autorização para entrar em casa, ou na varanda durante muitas horas... e no final quando já estão desesperados abandonam ou dão o cão a outra pessoa.
Mas então o que é afinal falta de "firmeza"?
Normalmente essa ideia surge em cães como o Jolly que vou descrever de seguida:
O Jolly é um Retriever do Labrador com uma idade entre o ano e meio e os dois anos, um cão adquirido porque a raça é muito inteligente, afável e sociável, nada agressiva. O Jolly foi adquirido para que as crianças de casa pudessem conviver com um cão, como a casa tem quintal e espaço não faz mal que tenha um porte médio. A ideia inicial era que ele pudesse ser um membro da família na íntegra, que pudesse andar por casa, por todo o lado. Mas embora as coisas tenham corrido bem inicialmente, apenas com os incidentes normais das necessidades, que foram resolvidos, por volta dos 7/8 meses as coisas começaram a complicar-se, começou a roer os fios pela casa, a esvaziar as almofadas e tirar comida de cima do balcão da cozinha, a roubar coisas das mãos dos membros da família e correr com elas na boca sem as devolver, acabando por estragá-las, a saltar para cima das visitas e dos membros da família quando chegam a casa, atirando ao chão as crianças, a ladrar aos cães que passam pelo passeio em frente a casa, a mordiscar as mãos dos donos quando está excitado e a puxar a trela cada vez mais, que com o seu tamanho e força a aumentar levou a que seja passeado apenas alguns dias na semana. Como se tornou impossível tê-lo em casa, fica mais tempo no quintal que dentro de casa, e mesmo quando entra está limitado a uma divisão. Quando fica sozinho em casa, no quintal, fica preso para que não ladre, nem abra buracos no relvado.
Um cão como o Jolly faz com que os amigos e visitas profiram a frase "Ele é muito mimado, precisam de ter uma mão mais firme senão não vão dar conta dele!"
Muito bem dito, apoio totalmente a afirmação, necessitam de facto de ter uma postura mais coerente com o cão de forma a controlar os seus comportamentos. Obviamente que a frase dita da outra forma nos faz pensar em palmadas, esticões de trela, gritos, e tudo o que seja imposição de poder da parte dos donos, mas não é isso que é necessário, pode até parecer que sim e pode de facto parecer que resulta quando de repente o começam a fazer mas é apenas uma ilusão, o Jolly apenas se habitua a ter os comportamentos desejados na presença dos donos, ou quando percebe que eles o poderão castigar, quando não é assim todos os comportamentos indesejados mantêm-se.
Num cão como o Jolly a solução para os comportamentos indesejados passa por várias mudanças de atitude em conjunto, passa por uma maior estimulação mental do cão, dar-lhe actividades recreativas quando fica sozinho, ensiná-lo a passear à trela para que possa exercitar-se e assim ficar mais calmo, precisa de perceber que existem comportamentos alternativos aos que tem em determinadas situações e que esses comportamentos alternativos não só põem os seus donos satisfeitos, como lhe permitem chegar ao que quer na mesma e lhe dá ainda mais uma recompensa como bónus, precisa de uma família que saiba falar a uma só voz com o seu cão, que perceba que seja qual for o membro da família humana que esteja com o Jolly as regras são sempre as mesmas e a exigência no cumprimento dessas regras é também igual.
O Jolly não precisa de donos com dotes de "encantadores de cães" precisa de donos que sejam pessoas normais, que encontrem uma forma clara e objectiva de comunicar com ele.
Bons treinos!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ter "Mão Firme" na minha perspectiva!

Começo este post por pedir desculpa a quem segue aquilo que escrevo pela falta de tempo que tenho tido para escrever aqui. É de facto muito difícil neste momento arranjar o tempo necessário para o fazer, não sou um escritor, e necessito de inspiração para que me saia um post com interesse, aliás isso fica claro na forma como escrevo e nos erros que teimo em dar cada vez que escrevo... enfim ainda bem que não sou escritor.
Mas o tema que me suscitou interesse foi o levantado pela Cláudia Estanislau, através de um vídeo no seu blogue Chamaram-me Safira. A velha questão de ter "mão firme" com o seu cão, mostrar-lhe quem manda. Ai está um assunto importante para ser desmontado e colocado na caixinha do sótão/cave.
Infelizmente nos dias que correm quase sempre os donos que me contactam são seguidores da série "Encantador de Cães", e esta questão vem ao de cima na conversa, mas é engraçado como treinam o cão, lhe alteram o comportamento sem que em nenhum momento usem qualquer técnica demonstrada nessa série, convencidos que lhes estou a dar a fórmula para que o cão saiba que eles é que mandam lá em casa... eu em momento nenhum lhes digo que as técnicas têm esse objectivo, mas eles estão convencidos disso.
Partem desse princípio, porque consideram que esse conceito é básico, mas na realidade é um falso conceito. Como diz o Dr. Ian Dunbar, quando se diz que temos de usar um castigo, não quer dizer que tenha de envolver dor ou desconforto físico, um castigo é apenas algo que diminui a frequência de um comportamento se repetir, mais nada. Da mesma maneira ter "mão firme" é de facto necessário para ter um cão educado, na minha opinião, mas ter mão firme é o quê? O que é que isso quer dizer?
Bem na minha perspectiva isso quer dizer simplesmente ser coerente, ter controlo sobre as situações onde o seu cão vai buscar os reforços que mantêm os comportamentos, cabe-lhe a si enquanto dono fazer isso.
Não há dúvidas disto na minha opinião, tal como não há dúvidas de que é necessário sermos "calmos e assertivos", como diz Cesar Millan, para estarmos predispostos para treinar de forma eficaz o nosso cão, é pena que depois os seus actos nada tenham que ver com o que diz, tinha tudo para ser um bom treinador de cães, assim é apenas uma boa vedeta televisiva.
Quem considerar que não é bem assim deixo-vos mais uma concepção errada de treino de animais, quando vão ao circo encontram por lá muitas vezes os chamados "Domadores de Leões", mas toda a falácia começa pelo nome domador, como se de alguma forma o indivíduo tivesse conseguido subjugar um felino capaz de um matar em 10 segundos. Depois é o chicote, vemos um senhor a agitar um chicote para manter as feras no seu lugar... mas o que não nos apercebemos é que na outra mão os domadores têm outra vara...porquê? Porque nos treinos das habilidades essa outra vara, que tem um espeto de metal na ponta, costuma estar carregada com um belo pedaço de carne crua, que serve de recompensa para fazer Targeting, dar a pata, sentar, saltar por argolas em chamas, rugir, etc. Afinal de contas o chicote na outra mão e o nome são só adereços de cinema, porque a vara que faz o leão obedecer é a outra...
Bons treinos!