sábado, 10 de dezembro de 2011

Aumentar a fasquia...


No seguimento do post anterior, o Segundo post.

Retirado de Fearfuldogs Blog, tradução do post Raising the criteria for sacred cows”.

No treino de cães a maneira de obter um comportamento que queremos é através do aumento progressivo do critério. Isto significa que paramos de recompensar o comportamento que está quase como queremos e pedimos mais e melhor do cão. Quando o obtemos, recompensamos. Se quer que o seu cão se deite não se fica por um daqueles agachamentos que quase parecem um deita. Isso pode não ter problema se está a fazer shaping para o comportamento mas é bom que não recompense muitas vezes senão será isso com que ficará. Espere mais daqueles capazes de fazer mais e recompense a melhoria.

Parece que no mundo do resgate de animais muitos de nós estamos dispostos a nos contentarmos, e recompensarmos, um comportamento não assim tão bom das pessoas que o desenvolvem. Tipicamente quando abordo este tema recebo as respostas habituais como: “Bem pelo menos estão a fazer alguma coisa” ou “ “É melhor do que nada”, existe uma lista de razões para que o “melhor” seja difícil ou até impossível de atingir. E depois existem os que partem para a ofensiva “E tu o que andas a fazer para ajudar?”.

Embora cada uma das respostas tenha uma razão de ser, parecem falhar o ponto onde quero chegar, que é o de que nós podemos fazer melhor, mas não enquanto não aumentarmos o critério para o que consideramos um resgate de sucesso. Como está agora o retirar simplesmente o cão do canil e colocá-lo numa casa é bom o suficiente que não se queira de forma nenhuma julgar quem o faz. Na minha opinião é como recompensar um daqueles, quase mas não totalmente, deitas. Pode ser bom o suficiente para si mas não sobreviverá ao escrutínio daqueles que passam a vida a tentar assessorar esse tipo de coisas. Ou são chamados para tentar reunir os cacos de um cão desfeito.

Depois de ver um video de uns Beagles a serem salvos de um laboratório em Espanha, que era suposto ter trazido lágrimas aos meus olhos, dei por mim zangada e frustrada e depois aliviada. Eram cães com necessidades especiais. O seu desenvolvimento estava a ser comprometido pelo confinamento e falta de exposição a estímulos novos. Libertá-los numa vida para além das suas jaulas é um objectivo e pêras, mas expô-los a coisas que as pessoas acham que eles devem gostar, sem tomar consciência e perceber que a essa suposta “liberdade” a que os sujeitamos, é assustadora, não é bom o suficiente. Claro que sabe bem aos voluntaries serem eles a abrir as portas das jaulas, e não quero tirar-lhes isso, mas não devia ser naquele momento o principal objectivo do resgate e eu suspeito que se formos honestos connosco mesmos admitiremos que “salvar” os animais faz-nos sentir bem e que é esse o nosso principal motivador por detrás do comportamento.

Alguns pegam nesse sentimento para o lado patológico e tornam-se acumuladores compulsivos, com divisões, jaulas e canis cheios de animais que eles “salvaram”, mas que vivem vidas de negligência, de falta de higiene, de falta de cuidados, tanto física como emocionalmente. Outros parecem comportar-se como consumidores impulsivos, originando situações e salvando animais e depois passam ao próximo resgate sem sequer chegar a estriar a sua última aquisição. Se o resgate é um daqueles com elevada visibilidade, ou que se pode tornar num, é muitas vezes suficiente para começar a gerar angariação de fundos sob a forma de donativos, para assim o seu comportamento “quase bom o suficiente” continuar.

Os riscos de tratar os cães como estão ser tratados nesse vídeo são reais. Praticamente tudo acerca da experiência é novo, e potencialmente assustador para os cães. Isto significa que tudo o que estiver associado à experiência poderá ser considerado assustador no futuro. Este tipo de condicionamento é tão eficaz que pessoas que nos tentam vender coisas todos os dias o utilizam a toda a hora. Carros são associados com os sentimentos que uma pessoa tem quando está a olhar para mulheres seminuas ou homens com aparência poderosa. Cigarros e bebidas doces são associados a imagens que representam a liberdade e a diversão. Pense no que cheirinho de uns pastéis de Belém acabadinhos de sair o faz sentir. Não interessa que a textura da relva debaixo das patas dos cães lhes faça doer ou não, se pisar a relva ficar associado com o ficar assustado, seja por o que for que os está a assustar, poderemos ficar com um cão que não quer pisar relvados porque isso está associado com o sentimento de medo. O mesmo é verdade no que toca a entrar num veículo e experienciar toda uma parafernália de cheiros, sons e visões ao mesmo tempo que está a experienciar medo. Não interessa se aconteceu alguma coisa de mal ao cão ou não. A resposta física e emocional de medo são prova suficiente de que o estar com medo é garantido.

Os treinadores são muitas vezes chamados para ajudar a resolver comportamentos problemáticos em cães, e poderá não haver razões obvias para o comportamento do cão. Cães que não entram em carros, ou que não saem de casa. Existem cães que não lhes interessa quanto tempo passam na rua, quando voltam para casa fazem xixi atrás do sofá.

Porque é que nós estamos tão relutantes em exigir mais e melhor das pessoas que “salvam” animais? É como contentarmo-nos com fast-food como uma refeição nutritiva. Existirão sempre aqueles cães que independentemente dos desafios que se coloquem eles vão sempre ultrapassá-los, mas existirão muitos mais que nunca encontrarão a calma e conforto nas vidas que temos para lhes oferecer, devido ao tratamento inapropriado, quando necessitavam de um tratamento imaculado. Será que podemos admitir que a maioria das pessoas que procura adoptar um cão não está preparada para lidar eficazmente com um cão problemático? Estaremos preparados para observar como é que a forma como transportamos os cães afecta o seu comportamento? Poderemos aceitar que nem todos os cães serão companheiros felizes e confiantes dados os recursos disponíveis?

É difícil ver os animais sofrerem abusos e desrespeitos e não querer fazer nada para mudar isso. É esta resposta nas pessoas que me faz gostar mais delas. Sou a favor de fazer alguma coisa, só gostaria de ver que a “alguma coisa” que se anda a fazer fosse tão boa quanto é possível.”

sábado, 3 de dezembro de 2011

A m*da também acontece nas associações de cães abandonados

Costumo ler alguns blogues, aliás tenho aqui no meu blogue, na barra esquerda, os meus blogues preferidos e no Fearfuldogs'blog, um blogue da Debbie Jacobs, uma treinadora de cães com especial interesse em cães medrosos, que tem trabalhado durante anos em associações de cães abandonados tentando melhorar a vida dos cães aterrorizados que por lá chegam, com sucesso, a Debbie colocou agora dois posts que faço questão de traduzir, aliás pedi-lhe autorização para isso. Um deles é este.
Quero ainda acrescentar que sempre pensei que todas as associações de cães abandonados nos EUA eram melhores e diferentes das nossas, mas afinal também existem associações iguais às nossas, e essas associações criam um sentimento de irritação e revolta em todos aqueles que têm conhecimentos em comportamento canino.
"É verdade, a m*da acontece e quando é assim é bom que se saiba. É como aqueles restaurantes de fast-food com sinais na casa de banho a dizer - "Por favor diga-nos se esta casa de banho não satisfaz as suas expectativas em termos de higiene". Se a m*da acontece e você não sabe como é que a poderá limpar?
Na indústria do resgate de animais, poderá considerar falaciosa a utilização do termo "indústria" se quiser, existe muita m*da a acontecer que não fica nos registos e histórias criadas para gerar angariação de fundos para o grupo a efectuar o resgate.
Eu descubro m*da de pessoas que insistem que colocar um cão numa casa e tirá-lo do canil vale sempre a pena, independentemente se houve ou não uma avaliação adequada do cão e das necessidades/conhecimentos do futuro dono. Alguns dirão que as probabilidades são melhores para o cão, 100% hipóteses de morrer no canil contra uma percentagem incerta de sofrer na nova casa, ou seja lá onde for que acaba. Mas não estejam assim tão certos, em muitos casos morrem na mesma. Poderão sofrer emocionalmente e fisicamente ao serem passados de dono em dono, de casa em casa ou de canil em canil. Poderão ser forçados a viver uma vida de confinamento ou isolamento. Poderão ser "adoptados" por traficantes de cães que vendem cães para experimentação ou lutas. Se o cão for de raça e não esterilizado poderá ser usado para criação. Poderá acabar fazendo parte da colecção de uma pessoa que sofre de acumulação compulsiva. Num número surpreendentemente elevado fogem da sua nova casa e não são encontrados.
Quantas associações têm estatísticas acerca de quantos cães estão ainda no seu adoptante original, com donos satisfeitos, um ano a seguir à sua adopção? E se não as têm... porquê? Como é que podemos ficar felicíssimos e excitados por um cão ser adoptado se essas adopções podem ser mal sucedidas? Como pode um grupo melhorar a sua avaliação dos cães e dos potenciais donos sem ver os resultados das suas práticas e procedimentos habituais? Eu já conheço todas as desculpas para não realizar este tipo de monitorização, tempo e dinheiro estão no cimo da lista. Mas eu não consigo aceitá-las. Se nos queremos realmente declarar defensores de animais então o "olhos que não vêem, coração que não sente" ou "longe da vista, longe do coração" não pode continuar.
Se estamos verdadeiramente determinados em salvar os animais ao nosso cuidado, então encontraremos formas de nos certificarmos que estamos a fazer o melhor que podemos por eles. Mas nunca saberemos como fazer isso enquanto não estivermos disponíveis para olhar para o quadro completo e não apenas a viver o momento, como o momento da adopção."