Na sociedade atual muitos são os desafios que se colocam ao dono de cão. Já
vivemos numa altura em que os cães tinham uma liberdade quase total numas casas
e noutras estavam completamente confinados a uma corrente toda a vida. Havia
esta dualidade e incrivelmente, na minha opinião, surgiam menos problemas e
incompreensões entre donos e cães que hoje em dia. Na minha infância
experienciei os dois mundos. Na casa dos meus avós maternos os cães viviam
quase a totalidade da sua vida presos numa corrente, com uma casota para dormir
e água e só existiam contactos sociais com os donos na hora da refeição, não
existiam conflitos, não existiam problemas comportamentais, eles estavam ali e
pronto. Na casa dos meus avós paternos os cães eram um membro da família que tinha
acesso a todas as divisões da casa e ia para todo o lado especialmente com a
minha avó. Muitas e muitas vezes ouvi a história dum cão chamado Martini. O
Martini viveu na casa destes meus avós e tinha por hábito acompanhá-los para
todo o lado. Por vezes não dava conta da saída da minha avó e entrava na casa
das vizinhas onde ela costumava ir pelo postigo da porta, uma a uma, até
encontrá-la. Também costumava acompanhar o meu avô à taberna onde fazia umas
gracinhas para o entusiasmo dos presentes, apanhava objetos de cima das mesas à
ordem do meu avô e um dia em que o meu avô, embriagado, chegou a casa e reparou
que tinha perdido a carteira com todo o dinheiro do ordenado, olhou para o
Martini e lá estava ele com a carteira na boca...tinha carregado a carteira
desde a taberna até casa...
Hoje em dia numa sociedade capitalista e exigente como a que vivemos não é possível
por um lado ter Martinis, nem é aceitável ter cães presos a uma corrente 24h
por dia 365 dias por ano. Então a nossa missão é a mais exigente até hoje, educar
Martinis numa média de 2 ou 3 horas diárias disponíveis para o efeito... Não é
uma equação simples, muito menos fácil. Muitos são os donos de cães que me
questionam se é mesmo necessário estimular os cães na nossa ausência, com
kongs, com ossos de roer, com cheiros, com o que for necessário, muitos são os
donos que esperam cães calmos com o mínimo tempo de exercício e estimulo possível.
Os vossos cães merecem mais que isso.
É necessário tudo o que for preciso para termos o nosso companheiro feliz e
bem aceite no nosso seio familiar. Ele é nosso amigo, se o queremos como tal
então tudo vale a pena.
Vivam os vossos cães!