domingo, 8 de abril de 2012

Treino de cães

Existem pessoas no treino de cães com os mais variados objectivos pessoais. Cada um tem o seu, no meu caso o objectivo é fazer uma ponte entre toda esta amalgama de termos, conceitos, métodos, técnicas, etc. e o dono comum que tem os seu cão e não tem os conhecimentos práticos de como torná-lo num parceiro bem comportado. Esta situação na maioria dos casos leva a perda de qualidade de vida do cão ou abandono, coisa a que assisti durante 8 anos da minha vida enquanto voluntário de uma associação de cães abandonados.
Quero simplesmente transformar técnicas de treino supostamente complicadas em coisas práticas e acessíveis a qualquer dono com vontade de ter consigo o seu amigo.

A escolha pelo treino positivo ou treino de reforços progressivos teve influências a vários níveis e foi uma coisa progressiva ao longo de anos da minha vida. Fui procurando soluções cada vez com menos recurso a métodos aversivos.
A primeira conversa que iniciou esta descoberta foi com o meu avô. Até há pouco tempo nem me tinha apercebido disto, mas agora percebo o significado desta conversa e o porque de ela nunca mais ter saído da minha cabeça. Antes de a contar quero apenas referir que os meus avós foram caçadores e sempre tiveram uma ligação muito grande com os seus cães de caça e com o treino desses seus cães, tal como o meu pai. Cresci rodeado disto e foi aqui que nasceu o meu bichinho do treino de cães, passei meses a passear diariamente os cães de caça com o meu avô paterno para treinar esses cães e durante o passeio fui recebendo conhecimentos da parte dele acerca do processo.

Num desses dias ele falou-me dum galgo que teve, numa altura em que nem dinheiro tinha para uma espingarda de caça, nem havia a abundância de carne à mesa como hoje em dia e por isso a caça era uma fonte importante de carne na altura. Era um cão, segundo ele, que conseguia fazer coisas fantásticas, poucas eram as lebres que lhe conseguiam escapar, corria durante vários minutos atrás de uma sem desistir. Todos os donos de galgos na altura queriam ter descendentes do seu cão. Um dia numa dessas saídas para caçar ele correu sem desistir atrás de uma lebre e desapareceu durante minutos, passado um tempo voltou com a lebre na boca, cansado, em vez de a dar imediatamente ao meu avô, como sempre fazia, não o fez, decidiu mordiscá-la, rasgar-lhe a pele e começar a mastigá-la a alguns metros do meu avô. Ele irritado bateu-lhe, coisa que nunca tinha feito. O dia terminou e as coisas passaram. No dia que se seguiu de caça, as coisas correram como costume até que o meu avô começou a estranhar o aumento de corridas sem sucesso do cão, demorava a voltar, mas vinha quase sempre sem nada na boca, coisa que não era hábito. Então ele pressupôs que algo se passava e que estava relacionado com os acontecimentos desse tal dia, por isso, começou a dar-lhe pedaços de pão sempre que ele lhe trazia a caça e outras coisas à mão, começou a tratá-lo com mais afecto e a partir de um certo dia o galgo começou a trazer-lhe as lebres na quantidade normal e a trazer lebres que tinham estado enterradas no campo por ele, ele tinha voltado a confiar no meu avô.

Esta história ficou sempre na minha mente e agora sei porquê.

Vivam os vossos cães!

1 comentário:

Rita disse...

excelente história !
os nossos amigos de 4 patas são realmente seres extremamente impressionantes e maravilhosos ..