sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Discussões à parte... vamos treinar os nossos cães!

Escrito por: Ian Dunbar (http://www.dogstardaily.com/)

“Words can only hurt you if you try to read them.” (Derek Zoolander)
Ou claro, se discutir acerca de palavras impeça o treino cães propriamente dito.
"Tendo estudado o desenvolvimento da estrutura social dos cães domésticos durante 10 anos, sei duas coisas com toda a certeza: 1 - a estrutura social dos cães domésticos é uma coisa bastante complicada e 2 - a maioria das noções, discussões e desacordos acerca dos termos alfa, dominância, hierarquia e ranking são largamente irrelevantes quanto ao treino de cães propriamente dito. Aliás quanto mais se discute mais nos afogamos em termos e em dúvidas e mais nos retraimos de treinar/educar os nossos cães.

Sim, cães que são criados, vivem em grupos sociais, desenvolvem hierarquias e as hierarquias intra-machos são frequentemente lineares. Mas existem diferentes hierarquias para diferentes contextos e existem tantas excepções às regras sociais básicas. Os cachorros têm "licença" para serem mal-comportados. Uma fêmea de ranking muito baixo pode facilmente guardar um osso soculento de um macho de ranking elevado. Os elementos de ranking muito elevado e de ranking muito baixo raramente lutam (os primeiros não têm necessidade de o fazer e os segundos são muito tontos para lutar). A maioria das lutas ocorre entre os machos de ranking mediano, mas mesmo esses não lutam com muita frequência.

A hierarquia é criada através de uma dominância fisica? Quase nunca. É esse o propósito de ter uma hierarquia.

Dominância é diferente de agressividade, e também ranking e hierarquia não estão, necessariamente, relacionadas com agressividade. Todos estes termos são diferentes. E quanto mais termos surgirem mais divergências surgirão. A estrutura de uma matilha é complicada... isto é tudo o que é preciso para ensinar um cão seja em que contexto for. No entanto, pessoas preocupadas e conscientes da importância de uma boa educação do seu cão perguntam sempre, Porquê? Porque é que faz isto? As pessoas em geral são fascinadas nas razões, na origem das coisas. No entanto cada termo, razão, definição e categoria que surge cria ainda mais controvérsia e objecções ideológicas de outras pessoas. O debate acerca da estrutura social de uma matilha é fascinante mas uma discussão sem fim. No entanto não podemos deixar que esta discussão fascinante nos distraia do principal que é ensinar o cão a viver de forma harmoniosa em sociedade. Não valerá a pena debater muito se isso nos atrasa ou se nos faz perder a oportunidade de resolver um problema imediatamente.

A procura do porquê é particularmente dificil no treino de cães, porque o comportamento canino, ou os problemas de temperamento não têm apenas uma possivel causa. No treino normalmente existem várias causas possiveis para um único problema. Por exemplo, um cão pode morder porque: 1. Demora a sentir-se à vontade com pessoas estranhas; 2. Não se sente seguro perto de crianças; 3. Não gosta de ser muito manuseado; 4. Guarda um pouco a taça da comida e 5. Está mal humorado um certo dia... e então uma criança estranha agarra-lhe a coleira quando ele está a comer na sua taça! WHAM!!Uma grande dentada!

Em vez de perder tempo a tentar definir e categorizar a razão ou razões para a agressividade, temos apenas de aceitar que o cão mordeu a criança, e se não houveram danos fisicos (devido a uma boa inibição da mordida enquanto cachorro), vamos tão depressa quanto possivel resolver o problema. Vamos ensinar o cão a gostar de estranhos, a gostar de crianças, a querer ser agarrado na coleira e para gostar de companhia enquanto está a comer na taça. Problema resolvido. E depois disso temos bastante tempo para os porquês, para que também se possam prevenir futuras situações com outros cães.

Resolver primeiro o problema e debater a sua etiologia depois resulta bastante bem no treino e cães por duas razões: 1. O problema e a sua resolução são factos observáveis e consensuais, mas as discussões acerca da sua etiologia são baseadas em suposições (discutiveis portanto) e 2. A maioria dos protocolos de mudança de comportamento são sensivelmente identicos independentemente da suposta causa(s) da agressividade.

Devemos separar sempre os factos das suposições. Problemas comportamentais são observáveis e quantificáveis (vemos o cão a morder e a gravidade da dentada). Por exemplo o cão mordeu a criança três vezes seguidas e não deixou nenhuma marca na pele. São factos indescutiveis. Então estamos, essencialmente, a falar de um aviso. Da mesma forma o sucesso ou insucesso do treino é observável e quantificável. Por exemplo, a seguir a apenas três dias de condicionamento clássico, o cão aproximasse rapidamente da criança, senta-se e recebe a recompensa de comida, e abana a cauda durante o processo. Ou em vez disso o cão continua a evitar a criança e rosna sempre que esta se aproxima para lhe dar uma recompensa. O sucesso do treino é observável no primeiro caso em comparação com o segundo, por isso toca a continuar o treino. No entanto no segundo caso o insucesso do treino também é observável e quantificável, por isso se a técnica utilizada não resulta, mudemos de técnica para uma que resulte. Discutir termos e teorias tem tendência a consumir uma quantidade de tempo e energia sem fim.

Talvez a principal razão para não atrasar o inicio do treino, devido a discussões acerca da etiologia do problema, é o facto das técnicas de mudança de comportamento serem as mesmas seja qual for a etiologia."

1 comentário:

Juliana Sphynx disse...

As pessoas precisam se convencer de que todo o animal quando bem cuidado retribui da mesma maneira em seu comportamento e não é pela raça que serão assassinos
=)