No seguimento do post anterior, o Segundo
post.
Retirado de
Fearfuldogs Blog, tradução do post “Raising the criteria for sacred cows”.
“No treino de cães a maneira de obter um
comportamento que queremos é através do aumento progressivo do critério. Isto
significa que paramos de recompensar o comportamento que está quase como
queremos e pedimos mais e melhor do cão. Quando o obtemos, recompensamos. Se
quer que o seu cão se deite não se fica por um daqueles agachamentos que quase
parecem um deita. Isso pode não ter problema se está a fazer shaping para o
comportamento mas é bom que não recompense muitas vezes senão será isso com que
ficará. Espere mais daqueles capazes de fazer mais e recompense a melhoria.
Parece
que no mundo do resgate de animais muitos de nós estamos dispostos a nos
contentarmos, e recompensarmos, um comportamento não assim tão bom das pessoas
que o desenvolvem. Tipicamente quando abordo este tema recebo as respostas
habituais como: “Bem pelo menos estão a fazer alguma coisa” ou “ “É melhor do
que nada”, existe uma lista de razões para que o “melhor” seja difícil ou até impossível
de atingir. E depois existem os que partem para a ofensiva “E tu o que andas a
fazer para ajudar?”.
Embora
cada uma das respostas tenha uma razão de ser, parecem falhar o ponto onde
quero chegar, que é o de que nós podemos fazer melhor, mas não enquanto não
aumentarmos o critério para o que consideramos um resgate de sucesso. Como está
agora o retirar simplesmente o cão do canil e colocá-lo numa casa é bom o
suficiente que não se queira de forma nenhuma julgar quem o faz. Na minha
opinião é como recompensar um daqueles, quase mas não totalmente, deitas. Pode
ser bom o suficiente para si mas não sobreviverá ao escrutínio daqueles que
passam a vida a tentar assessorar esse tipo de coisas. Ou são chamados para
tentar reunir os cacos de um cão desfeito.
Depois de ver um video de uns Beagles a serem salvos de um
laboratório em Espanha, que era suposto ter trazido lágrimas aos meus olhos,
dei por mim zangada e frustrada e depois aliviada. Eram cães com necessidades especiais. O seu desenvolvimento
estava a ser comprometido pelo confinamento e falta de exposição a estímulos novos.
Libertá-los numa vida para além das suas jaulas é um objectivo e pêras, mas
expô-los a coisas que as pessoas acham que eles devem gostar, sem tomar
consciência e perceber que a essa suposta “liberdade” a que os sujeitamos, é assustadora,
não é bom o suficiente. Claro que sabe bem aos voluntaries serem eles a abrir
as portas das jaulas, e não quero tirar-lhes isso, mas não devia ser naquele
momento o principal objectivo do resgate e eu suspeito que se formos honestos
connosco mesmos admitiremos que “salvar” os animais faz-nos sentir bem e que é
esse o nosso principal motivador por detrás do comportamento.
Alguns
pegam nesse sentimento para o lado patológico e tornam-se acumuladores
compulsivos, com divisões, jaulas e canis cheios de animais que eles “salvaram”,
mas que vivem vidas de negligência, de falta de higiene, de falta de cuidados,
tanto física como emocionalmente. Outros parecem comportar-se como consumidores
impulsivos, originando situações e salvando animais e depois passam ao próximo
resgate sem sequer chegar a estriar a sua última aquisição. Se o resgate é um
daqueles com elevada visibilidade, ou que se pode tornar num, é muitas vezes suficiente
para começar a gerar angariação de fundos sob a forma de donativos, para assim
o seu comportamento “quase bom o suficiente” continuar.
Os
riscos de tratar os cães como estão ser tratados nesse vídeo são reais. Praticamente
tudo acerca da experiência é novo, e potencialmente assustador para os cães. Isto
significa que tudo o que estiver associado à experiência poderá ser considerado
assustador no futuro. Este tipo de condicionamento é tão eficaz que pessoas que
nos tentam vender coisas todos os dias o utilizam a toda a hora. Carros são
associados com os sentimentos que uma pessoa tem quando está a olhar para
mulheres seminuas ou homens com aparência poderosa. Cigarros e bebidas doces
são associados a imagens que representam a liberdade e a diversão. Pense no que
cheirinho de uns pastéis de Belém acabadinhos de sair o faz sentir. Não
interessa que a textura da relva debaixo das patas dos cães lhes faça doer ou
não, se pisar a relva ficar associado com o ficar assustado, seja por o que for
que os está a assustar, poderemos ficar com um cão que não quer pisar relvados
porque isso está associado com o sentimento de medo. O mesmo é verdade no que
toca a entrar num veículo e experienciar toda uma parafernália de cheiros, sons
e visões ao mesmo tempo que está a experienciar medo. Não interessa se
aconteceu alguma coisa de mal ao cão ou não. A resposta física e emocional de
medo são prova suficiente de que o estar com medo é garantido.
Os
treinadores são muitas vezes chamados para ajudar a resolver comportamentos
problemáticos em cães, e poderá não haver razões obvias para o comportamento do
cão. Cães que não entram em carros, ou que não saem de casa. Existem cães que
não lhes interessa quanto tempo passam na rua, quando voltam para casa fazem
xixi atrás do sofá.
Porque
é que nós estamos tão relutantes em exigir mais e melhor das pessoas que “salvam”
animais? É como contentarmo-nos com fast-food como uma refeição nutritiva. Existirão
sempre aqueles cães que independentemente dos desafios que se coloquem eles vão
sempre ultrapassá-los, mas existirão muitos mais que nunca encontrarão a calma
e conforto nas vidas que temos para lhes oferecer, devido ao tratamento
inapropriado, quando necessitavam de um tratamento imaculado. Será que podemos
admitir que a maioria das pessoas que procura adoptar um cão não está preparada
para lidar eficazmente com um cão problemático? Estaremos preparados para observar
como é que a forma como transportamos os cães afecta o seu comportamento? Poderemos
aceitar que nem todos os cães serão companheiros felizes e confiantes dados os
recursos disponíveis?
É
difícil ver os animais sofrerem abusos e desrespeitos e não querer fazer nada
para mudar isso. É esta resposta nas pessoas que me faz gostar mais delas. Sou
a favor de fazer alguma coisa, só gostaria de ver que a “alguma coisa” que se
anda a fazer fosse tão boa quanto é possível.”